terça-feira, 9 de agosto de 2011

Isso é um Belo Horizonte?



BELORIZ

 (Poema de meu amigo Claudio Persio)

Gerações antigas cantam e contam do encantamento

de  uma  linda cidade moderna, e já tão riscada no tempo.

Riscos de traços cirúrgicos ablativos, cor de sangue,
só  que feitos pra não salvar.

A ordem geral, parece, era só cortar, cortar.

Assim fizeram com os seios, seu ventre e cabeleira verde.

Pouco a pouco e ao pé, ao derredor de seus montes,

substituído teve seu manto, azul que agasalhava,

por cada vez mais tristes, frios e cinzas Horizontes.

Também alteraram, óbvio, o mais vital de seus líquidos,
secando-lhe cristalinas fontes.

Ninguém perguntou aos tímidos se queriam ver esticados

tanto assim todos seus membros puxados na vertical.

E, assim, castrando-lhe o porte de seu sobrenome vital.

Quase viveu, por um triz, safou-se em mera Beloriz.

Por que se terá deixado assim em mãos de imerecidos amantes?

Bela, bela, bela, bela no passado, pretérito, no antes,
quando Belô tinha Horizonte.

Os que a conheceram antiga venham; puxem os bancos, encham os copos,
aconcheguem-se e nos contem.

Façamos de conta que a de hoje é a bela cidade que foi ontem.




sábado, 14 de maio de 2011

Trocando os bichos da Revolução de Orwell

A nova cartilha do MEC é um passo importante na marcha firme e segura da burrice e da preguiça neste país. Segundo ela, os alunos não mais cometerão erros de concordância gramatical. Ao agredirem a pobre língua portuguesa nesse quesito, serão imediatamente absolvidos e consolados na condição de vítimas de "preconceito linguístico". Para os autores da referida cartilha - talvez afinados com o estilo daquele presidente que não gostava de ler e falava tudo errado - escrever e falar corretamente deve ser, doravante, um privilégio odioso da elite. O episódio lembrou-me imediatamente a "Revolução dos Bichos" de George Orwell, porém trocando-se a espécie animal: no Brasil, de agora em diante, todos os burros são iguais, mas alguns burros serão mais burros que os outros.